segunda-feira, 24 de março de 2008

PARTE 1 - A primeira escala

Aquele dia nunca mais saiu da minha cabeça. Minha turma em Porto Alegre se preparava para encarar as loucas e quentes noites do carnaval de Laguna (SC) – que hoje, dizem, já não são mais as mesmas. Eu, que sempre fui chegado numa festa, entendia a euforia da galera, mas meus pensamentos estavam ocupados – e preocupados – com o que me esperava nos Estados Unidos. Embarquei em São Paulo num vôo das Linhas Aéreas Paraguaias – isso mesmo, Linhas Aéreas Paraguaias! Era o que tínhamos naquele momento! Pisei no Aeroporto de Miami por volta das 22h.

Fazia frio e eu não me sentia confortável, estava intranqüilo, inseguro e meio atordoado com o tamanho do aeroporto, grande demais para quem só tinha visto o velho e apertado Salgado Filho. Mas logo tive que encarar o primeiro desafio: o Departamento de Imigração. Fiquei na fila dos estrangeiros aguardando a chamada para apresentar meu passaporte e dizer ao agente o que eu queria fazer nos Estados Unidos. Não tive tempo de me olhar no espelho, mas acho que minha cara já começava a aparentar pavor. Aquelas histórias de que mesmo com visto muita gente é impedida de entrar no país deve ter congelado meus olhos no tamanho GG.

“Next!”, ouvi o agente gritar. Era para mim. Com uma pequena mochila, me aproximei do guichê e disse um singelo Hi!. Apesar de sentir segurança no meu inglês, achei melhor não dar uma de esperto. Falei o mínimo necessário. O cara nem respondeu. Pegou meu documento, minha passagem e foi logo perguntando quantos dias iria ficar nos Estados Unidos e quantos dólares eu levava na carteira. Com essas duas respostas, conclui que ele faria uma relação entre a grana que tinha e o número de dias que pretendia ficar. Disse que iria passar uns 10 dias e tinha US$ 1,3 mil. Não menti. Aliás, evite mentir. Pelo menos na frente de um agente do Departamento de Imigração dos Estados Unidos. Se desconfiarem de você, eles irão pedir para ver sua carteira. Um pequeno desencontro de informações pode frustrar seus planos e colocar fim à aventura. Meus olhos continuavam grandes, aguardando o desfecho da perícia no guichê. Dei uma olhada para a fila num gesto involuntário, talvez para aparentar tranqüilidade. Observei que as pessoas que aguardavam minha saída da imigração estavam como eu: com os olhos arregalados e com medo de serem barradas no baile. Eu ainda observava a fila quando o barulho do carimbo retumbou nos meus ouvidos. “Cuide-se em Miami. Tenha uma boa noite”, disse o agente, devolvendo meus documentos.


Peguei meu passaporte e saí caminhando apressado do guichê. Já com a mala na mão, comecei a percorrer os corredores gigantescos atrás do setor de informações. Queria vaga em algum hotel próximo do aeroporto. Imaginei que dormir em Miami e partir na manhã seguinte para Nova York seria a melhor alternativa. Não queria chegar de madrugada a uma cidade enorme, estranha e sem conhecer uma única pessoa. A idéia foi boa, mas a coisa não saiu como eu imaginava. Depois de comprar a passagem para as 8h da manhã do dia seguinte, descobri que não havia lugar em nenhum hotel nas redondezas.

O jeito foi dormir no chão do aeroporto. Encostei minha mala nas costas, acomodei a cabeça no banco, estiquei as pernas no carpete e abracei a mochila. Minha ansiedade foi vencida pelo cansaço. Apaguei. Só acordei cerca de duas horas depois, com um policial cutucando meu pé direito. Ele perguntou de onde eu vinha e para onde eu ia. Satisfeito com a minha resposta, ele disse para eu me agasalhar. “A temperatura está ficando cada vez mais baixa. Vista alguma coisa”, ordenou. Foi um toque legal, mas não consegui mais pegar no sono. Fiquei acordado até embarcar para Nova York num vôo da Continental.

Nenhum comentário: